sábado, 23 de abril de 2016

O Regresso de D. Sebastião

D. Sebastião voltou 
Envolto em nevoeiro
Armado pioneiro 
Salvador da Pátria 
Em dor
Num fosso

Não é mais o ingénuo moço
Frequentou o estrangeiro 
Filiou-se em seitas 
É curandeiro de muitas maleitas

É professor 
Cientista
Artista
Investigador

Domina as lideranças
A economia 
As finanças 
E a filosofia

É influente na política 
Dos independentes 
Confronta ministros e gabinetes 
Quase sempre ausente 
Na parada dos seus tenentes 
Quais paquetes! 
É “tu cá, tu lá”
Com Bruxelas
Conhece corredores
Janelas 
E gestores

É poliglota 
Pratica pelota com proletários
Ténis com turistas
Golf com empresários 
Natação com desportistas 
E gamão com coristas

Toca piano 
Monta a cavalo 
Pinta o pano 
Com traço abstracto 
Escreve poesia
Canta fado em noites de farra 
E sublimado com histeria

Perseguido p’las informações 
E mui comentado 
P’la garra 
Com que interpreta variações

Gosta de sexo 
Não lhe importa o nexo 
Ama por dissimulação 
Mão sobre mão
P’ra que vejam a encenação 
Do amor 
Com compreensão 
Amizade 
E vivência em comunhão

O tempo não existe p’ra D. Sebastião 
Passado, presente e futuro 
São p’ra ele uma ilusão 
Da percepção

O povo aclamou o seu regresso 
A democracia o seu ingresso

Eis senão 
Quando um moço imberbe 
Leitor insaciável 
Observador externo imparcial 
Filho dum general de D. Sebastião 
Desfechou ao Pai em tom coloquial 
Esta questão: 
- D.Sebastião move-se a grande velocidade 
Tem um cérebro contraído diminuído 
Sem igualdade na minha dimensão 
O dia dele tem fracções de segundo 
O meu tem horas, dias, anos 
Uma imensidão! 

Atalhou o general: 
- Acaba com a fantasia
Da reflexão
Precisas experiência da vida 
Vivida! 
Então
Aprenderás a magia!

O moço calou-se 
Mas fixou-se na sua questão 
E murmurou: 
- Um dia compreender vão 
Ler
Tem um tempo de horas, dias, anos 
De prazer 
Uma imensidão
Afinal D. Sebastião não existe 
É uma ilusão 
Da percepção