D. Sebastião voltou
Envolto em nevoeiro
Armado pioneiro
Salvador da Pátria
Em dor
Num fosso
Não é mais o ingénuo moço
Frequentou o estrangeiro
Filiou-se em seitas
É curandeiro de muitas maleitas
É professor
Cientista
Artista
Investigador
Domina as lideranças
A economia
As finanças
E a filosofia
É influente na política
Dos independentes
Confronta ministros e gabinetes
Quase sempre ausente
Na parada dos seus tenentes
Quais paquetes!
É “tu cá, tu lá”
Com Bruxelas
Conhece corredores
Janelas
E gestores
É poliglota
Pratica pelota com proletários
Ténis com turistas
Golf com empresários
Natação com desportistas
E gamão com coristas
Toca piano
Monta a cavalo
Pinta o pano
Com traço abstracto
Escreve poesia
Canta fado em noites de farra
E sublimado com histeria
Perseguido p’las informações
E mui comentado
P’la garra
Com que interpreta variações
Gosta de sexo
Não lhe importa o nexo
Ama por dissimulação
Mão sobre mão
P’ra que vejam a encenação
Do amor
Com compreensão
Amizade
E vivência em comunhão
O tempo não existe p’ra D. Sebastião
Passado, presente e futuro
São p’ra ele uma ilusão
Da percepção
O povo aclamou o seu regresso
A democracia o seu ingresso
Eis senão
Quando um moço imberbe
Leitor insaciável
Observador externo imparcial
Filho dum general de D. Sebastião
Desfechou ao Pai em tom coloquial
Esta questão:
- D.Sebastião move-se a grande velocidade
Tem um cérebro contraído diminuído
Sem igualdade na minha dimensão
O dia dele tem fracções de segundo
O meu tem horas, dias, anos
Uma imensidão!
Atalhou o general:
- Acaba com a fantasia
Da reflexão
Precisas experiência da vida
Vivida!
Então
Aprenderás a magia!
O moço calou-se
Mas fixou-se na sua questão
E murmurou:
- Um dia compreender vão
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Tem um tempo de horas, dias, anos
De prazer
Uma imensidão
Afinal D. Sebastião não existe
É uma ilusão
Da percepção