Era como se adivinhasse
A solidão
Que se iria seguir
O rapazinho inscrevia
Na parede secular
Com lápis escolar
Datas de reuniões familiares
Que sentia calorosas
Que jamais reviveria
Gravou
Na memória da parede
Frases dos adultos
Sons dos copos a tilintar
O cheiro
O sabor da comida fumegante
Os olhares
O calor quente da família
Contra o frio do inverno
E a cheia do rio
Que rugia lá fora
Muitos anos passados
Numa tarde de festa
Na sala secular
Já adulto
Copo de tinto na mão
Palavra solta
Maré de confidências
Mostrou a um tio querido
As inscrições
Contavam uma dúzia
Eram datas importantes
O tio recordava-as na perfeição
Recordações vivas!
Ao sabor dum golo do tinto
O tio afinou a voz de alto
Abraçou o sobrinho
E espalhou o refrão
Duma alentejana canção
Pela sala dos convivas